quinta-feira, 29 de novembro de 2012

aborto


Agora em dezembro de 2012 passa a vigorar no Uruguai uma nova lei que permite o aborto se realizado até a 12ª semana e desde que a mulher passe antes por uma equipe formada por um ginecologista, um assistente social e um psicólogo ou psiquiatra. Essa equipe não pode proibir a realização do aborto, mas está incumbida de desencorajar a paciente, fazendo-a refletir sobre suas implicações e apresentando-lhe programas de apoio à maternidade e de adoção.

É comum entre aqueles que militam para manter a atual legislação que proíbe o aborto no Brasil dizer que são “a favor da vida”, porém a criminalização não só não evita o aborto, estima-se que mais de um milhão sejam feitos todos os anos no Brasil, como acarreta a morte ou danos irreversíveis à saúde a milhares de mulheres pobres, as que não tem R$5 mil para pagar uma clínica e acabam o realizado em condições precárias . A ONU em 2012 criticou a atual legislação brasileira e apontou em torno de 200 mil o número de mortes de mulheres anualmente em virtude de abortos clandestinos. 
(http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,onu-critica-legislacao-brasileira-e-cobra-pais-por-mortes-em-abortos-de-risco,837316,0.htm?p=1 )

Responda a si duas perguntas: se sua filha fizesse um aborto, você acharia razoável que ela, depois de passar pelas aflições que um procedimento como esse pode causar, respondesse a um processo penal e fosse tratada como uma criminosa.
Segundo, supondo que você fosse contra o aborto e tentasse dissuadir sua filha, irmã, ou alguém próximo, a não o fazer, contudo ela se mostrasse decidida a fazê-lo de qualquer jeito, o que você preferiria, que ela o realizasse numa clínica, seguindo os rigorosos médicos, ou que o fizesse em casa, introduzindo algum objeto na vagina ou recorrendo a algum outro procedimento precário. Se você tem acesso a R$5 mil pode escolher, o que não é o caso da maior parte da população.

Se a lei atual é desumana de forma que faríamos o possível para que não fosse aplicada a quem estimamos também o é para mulheres que desconhecemos.

É compreensível e totalmente aceitável que alguém seja, por princípio, contrário ao aborto, contudo a única maneira humanitária de desestimulá-lo é apoiando grupos de assistência a gestantes e programas de planejamento familiar. Uma situação de aborto é por si delicada, e não haveria saída perfeita, contudo criminalizar e deixar a cargo da polícia não é a melhor solução para tudo, ainda mais para questões como essa.

Uma lei como essa aprovada no Uruguai preservaria a saúde e a vida de milhares de mulheres que hoje abortam em condições improvisadas e não obrigaria ninguém a realizar o aborto, muito pelo contrário, tentaria, de uma forma humana, desestimulá-lo, em alguns casos de forma mais eficiente que a própria criminalização, pois, não tachando uma gestante que cogita o aborto de uma possível criminosa, criaria um ambiente favorável para ela procurar apoio e discutir sobre sua situação.

Agora se o seu raciocínio é: sou contra o aborto e desejo pelo menos ter o conforto moral de saber que as mulheres que vão realizá-lo poderão ser punidas com a morte, com danos à saúde ou com a cadeia; aí sim, é coerente defender a manutenção da lei como está, é o que ela faz todo ano com milhares de mulheres pobres que não tem os seus R$5 mil.

Para maiores informações sobre a legislação uruguaia:
 http://correiodobrasil.com.br/lei-que-regulariza-aborto-entra-em-vigor-no-uruguai/551713/#.ULciF-Q0WSo

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